Patrícia Rodrigues: “Tem que estudar se atualizar e inovar que tudo da certo”
Trabalhando no sítio do pai desde os 12 anos com plantação de laranja, ela mudou a cultura para cana e foi se especializar para uma maior produtividade
Nunca se falou tanto das mulheres do Agro como atualmente, talvez seja pelo olhar sistêmico por inovação que elas possuem. Entrar em campo com a teoria e a prática nas mãos é um dos caminhos que tem levado as mulheres ao sucesso com suas plantações.
Garra e conhecimento não faltam à Patrícia Valéria Rodrigues de 49 anos que trabalha no sítio do pai desde os 12 anos, em Nova Europa. Na época ajudava o pai José Rodrigues a cuidar de 17 mil pés de laranja, mas, devido aos problemas com o Greening há cerca de 20 anos, acabaram retirando a plantação e trocaram por cana.
Ela explica que na época percebeu que seu pai já não estava dando conta das mudanças de cultura e ela também não entendia absolutamente nada de cana, mas não queria que ele passasse as terras para a usina plantar. Depois de conversar com os agrônomos da Canasol, onde a entidade forneceu mudas e ensinou a ela como fazer o plantio, começou a formar seu canavial.
Patrícia então percebeu que precisava mudar sua visão sobre a nova cultura que iria implementar em sua propriedade e foi se aprofundar no assunto. Fez Especialização em Cana, Agricultura de Precisão e Técnico em Agricultura, para assim, entender de fato como cuidar de seu sítio.
Metódica com a plantação, ela anota tudo em planilhas e sabe exatamente o que acontece em suas terras. Hoje ela tem 38 hectares e planta cana-de-açúcar em 28 deles. Seus irmãos Benedito e Juscelene, trabalham em outros setores e entenderam que seria melhor Patrícia se dedicar ao que ela realmente gosta o Agro.
Patrícia conta que sempre acompanhou o pai no meio Agro, nunca sofreu preconceito e que já dirigia trator aos 12 anos. “Antigamente ele quem dirigia a propriedade de laranja e eu trabalhava junto, depois da mudança de cultura eu cuido de tudo, dentro e fora da porteira. Hoje ele está com 86 anos, às vezes aceita vir dar uma volta pelo sítio e quando vê a nova plantação diz, “nossa, quem diria que a Patrícia ia cuidar de tudo”, mas se ele não vem, eu filmo ou tiro foto para mostrar. Em época de plantio que não saio daqui, meu irmão trás meu pai, ele gosta de ver e entendeu que plantar cana não é só abrir um buraco e jogar a cana dentro”, brinca ela.
A produtora diz que os cursos que fez, tem ajudado muito e que hoje já consegue fazer as modificações necessárias para a cana, tanto na compra de herbicidas, escolha de mudas ou técnicas em manejo solo.
Para ajudar Patrícia na empreitada, há cerca de 8 anos ela contratou Dinael Roberto Zanachi. “Tudo que eu resolvo fazer gosto de conversar primeiro com Dinael, ele tem prática com a cana e gostamos de pesquisar juntos, para sempre estarmos atualizados”.
Em época de colheita, o acompanhamento é feito diuturnamente, pelos dois. “Não consigo ver cana caindo do transbordo ou máquina estragando meu plantio, fico doida com isso, já corro no motorista e aviso, está virando fora do carreador”, ri ela.
Dinael ressalta que a produtora tem uma mente aberta para as inovações. “Se há algo novo no mercado ela logo se propõe a testar, seja na questão de solo, novas mudas ou tecnologias”, disse ele.
Ela conta que às vezes quando vai pela primeira vez em uma loja comprar algo que precisa em sua propriedade às pessoas não lhe dão muita atenção, mas depois de cinco minutos de conversa, eles percebem que ela entende do que fala. “Tem um sujeito que está me enrolando com um problema de uma roçadeira, já dei um ultimato a ele, se não resolver, vai ter problema”, ri a produtora que não gosta de levar desaforo para casa.
Ela explica que as mulheres têm que ter força e acreditar que vai dar certo. “Tem que estudar, se atualizar, abrir a cabeça para as inovações que tudo vai acontecer naturalmente, só temos um probleminha com o clima, que milagre para trazer chuva, ainda não conseguimos fazer”, finalizou a produtora.
Patrícia tem um vínculo forte com o campo, foi ganhando respeito e conquistando de fato um espaço que já era seu desde criança. Tornou-se protagonista de sua própria história, provando que quem não estuda, não pode mais trabalhar na roça.
Por Suze Timpani – Canasol