Guerra na Ucrânia pode desestabilizar setor agrícola mundial por longo prazo
Entre os maiores fornecedores de grãos e de óleos vegetais, país terá estrutura de produção estrangulada.
Os efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia na agricultura estão sendo analisados muito no curto prazo, mas eles poderão afetar toda a economia do setor por vários anos.
A guerra pode desmontar a produção agropecuária da Ucrânia, um dos principais países participantes do mercado internacional de alimentos.
As consequências serão uma redução na oferta de grãos, alta nos preços internacionais e aumento de inflação nas diversas economias.
Destaca-se muito a importância dos ucranianos na produção e na exportação de trigo e de milho, mas a posição do país no cenário agrícola internacional vai muito além.
A guerra pode desestabilizar a produção no campo rapidamente, mas a reconstrução depois será demorada. Os produtores russos vão sofrer os efeitos das sanções, mas os ucranianos terão uma série de fatores adversos para enfrentar na retomada da produção agrícola.
O grande desafio para os agricultores ucranianos agora é plantar ou não plantar. E o tempo está ficando curto para o início do plantio.
Se plantarem, vão conviver com custos elevados que a própria guerra está incrementando. Ausência e preços elevados de fertilizantes e de agroquímicos. Dificuldades na obtenção de sementes, diesel caro e uma cadeia comercial e logística desestruturada.
Se não plantarem, os ucranianos vão deixar um vácuo na oferta mundial de produtos agrícolas. O resultado para o mercado internacional será uma continuidade da elevação dos preços.
Já os países que têm uma grande dependência dos produtos da Ucrânia, como Líbano, Tunísia e Paquistão, entre outros, além dos preços elevados, não terão mais um fornecedor seguro.
A alta de preços provoca uma inflação generalizada no mundo e aumenta o número da população que entra na lista de insuficiência alimentar.
A importância dos ucranianos no mercado internacional é grande tanto em grãos como em óleos vegetais. O país é o maior exportador mundial de óleo de girassol, colocando 6,5 milhões de toneladas desse produto no mercado externo.
A ausência dele, como ocorre agora devido às barreiras comerciais impostas pela guerra, força a alta também do óleo de soja, produzido com maior intensidade nas Américas do Norte e do Sul, e de palma, com produção na Ásia.
Os agricultores ucranianos são importantes também na produção e exportação de aveia, cevada e centeio. Nestes dois últimos produtos ocupam a terceira posição no mercado exportador mundial. A exportação de cevada é de 6 milhões de toneladas por ano.
A Ucrânia lidera também as vendas mundiais de farelo de girassol; está na quinta posição nas exportações de sorgo, e entre os dez maiores nas de farelo de soja.
Os grandes destaques, no entanto, ficam para as exportações de milho, que somam 33 milhões de toneladas por ano, e de trigo, que atingem 24 milhões.
Fonte: Folha de S.Paulo