Rússia bloqueia exportações de nitrato de amônio; pode haver desabastecimento
No Brasil, os reflexos devem ser mais críticos para as lavouras de cana-de-açúcar e café, que são as commodities que mais utilizam o produto e têm adubação longa
O bloqueio das exportações russas de nitrato de amônio (NAM) por dois meses eleva as chances de desabastecimento do produto no mercado brasileiro, avalia o diretor de Fertilizantes da consultoria StoneX, Marcelo Mello. “O impacto no Brasil é imediato. As chances de desabastecimento de NAM são muito grandes. Já achávamos que iria faltar nitrato porque somos imenso consumidor mundial e precisaríamos comprar quase 70% da cota estabelecida pela Rússia para obter o volume importado necessário no primeiro semestre. Agora, há um agravamento complexo do problema”, afirmou Mello. O Brasil importa cerca de 1,5 milhão de toneladas anualmente de NAM. Deste volume, aproximadamente 98% vêm da Rússia.
O governo russo anunciou a proibição das exportações do NAM desde esta quarta-feira (2) até o dia 1º de abril. O Ministério da Agricultura do país alegou haver necessidade adicional do nutriente no mercado interno em virtude do atraso na semeadura da safra de primavera. Segundo a pasta, a restrição permitirá o fornecimento adequado do NAM aos agricultores locais e impedirá o aumento dos preços do adubo em condições de demanda aquecida.
Anteriormente, o país havia adotado cotas para limitar a comercialização externa do produto por seis meses – de dezembro do ano passado a maio deste ano. A exportação de NAM estava restrita a 745 mil toneladas, redução de 58% sobre o exportado pelo país em igual período sem cota.
Na avaliação de Mello, a decisão da Rússia de suspender temporariamente as exportações surpreendeu o mercado, já que o país havia adotado as cotas limite para vendas externas do produto até maio. “A possibilidade de falta do NAM já estava no radar. A Rússia piorou a situação com a proibição, porque antes mesmo com a cota poderia ser exportado certo volume. Agora, é zero”, afirmou, acrescentando que a medida é altista para os preços do insumo, já que a oferta mundial ficará ainda mais apertada sem o fornecimento russo neste período.
Segundo o analista, a situação é agravada pelo fato de haver poucas possibilidades de origens alternativas do adubo. Ele aponta que a China, por exemplo, é uma grande exportadora de sulfato de amônio, mas não há conhecimento sobre produção e exportação de nitrato pelo país. “A Rússia é de fato o grande produtor do NAM. Mesmo que se busque o produto em outras origens, todo volume não será reposto. Por isso, as chances de desabastecimento são muito altas”, disse Mello. Além disso, ele pondera que há formulações mais complexas com nitrato na fórmula, contudo com valor superior ao ativo.
No Brasil, os reflexos devem ser mais críticos para as lavouras de cana-de-açúcar e café, que são as commodities que mais utilizam o produto e têm adubação longa. No caso da cana-de-açúcar, o início dos trabalhos ocorrerá em meio à proibição russa. Em relação ao café, o período maior de adubação é em meados de junho a outubro, fora da janela de restrições russas.
Fonte: MoneyTimes