Theresinha Cherubim de Souza: “As mulheres não podem se intimidar”

Professora aposentada ajudou o marido a transformar seu sonho em realidade fazendo com que sua fazenda desse lucro

Com coragem e disposição Theresinha Cherubim de Souza, hoje com 93 anos, colocou literalmente a mão na massa para que o sonho do marido, Jhoel de Souza se concretizasse.

Piracicabanos, se casaram em 1952, ela na época professora primária e ele formado em agronomia pela Esalq, vieram se estabelecer em Araraquara, pois o sonho de Jhoel era comprar uma fazenda, pois era filho de produtor rural.

Mesmo casados Therezinha tinha uma cadeira efetiva na cidade Ibitinga, e por lá ficou por um ano, até conseguir uma transferência para a Morada do Sol, onde lecionou na Escola João Manoel do Amaral até se aposentar.

“Neste intervalo em que fiquei trabalhando fora de Araraquara, nós juntamos um dinheiro para poder negociar umas terras. Em 1954 meu marido foi procurado por um senhor que queria vender sua parte em uma sociedade, na região das Cabaçeiras. Compramos a terra que não tinha nada, só mato, cerca de 300 alqueires ao lado do Clube Náutico, no início foi muito difícil, levamos oito anos para pagar”, ressalta ela.

Theresinha participou ativamente para o crescimento da fazenda.

Theresinha, que nunca havia tido contato com a terra, conta que começaram vendendo lenha, pois tiveram que desbravar a terra. “Compramos um caminhãozinho, daqueles bem antigos e um senhor ia cortando e nós íamos buscar nos finais de semana para vender”.

Ela conta que depois que pagaram as terras, compraram uma vaca à prestação. “Ela ficou conosco até morrer de velha”, lembra ela.

As primeiras cabeças de gado que o casal comprou

Depois de uma parte desmatada, eles tentaram plantar mandioca, “não foi bem, não tinha preço, partimos para o café, também não foi tão bem como pensávamos. Plantamos colonião para o gado, plantei muito capim, e fomos comprando umas cabeças de gado Nelore. Tentamos também um pouco de laranja, tivemos muito trabalho durante muito tempo”, lembra ela.

Plantação de mandioca

Antonio Pavan um dos donos da Usina Santa Cruz, um certo dia foi até a residência de Jhoel e Theresinha e conseguiu convencê-lo a plantar cana. “Foi neste momento que a nossa vida começou a melhorar, enquanto os canaviais iam se formando, fizemos um pomar, horta, uma pequena plantação de milho, arroz na várzea, mandioca e batata doce, tudo estava indo muito bem, bati muito arroz, marquei gado e gostava dessa vida” afirma.

Jhoel plantou cana no jardim de sua casa

Mas como nada é eterno, há 18 anos o marido de Theresinha faleceu e coube a ela continuar a cuidar da fazenda. Nesta mesma época houve mudanças na legislação ambiental, onde toda propriedade rural é obrigada a deixar 20% de seu território para mata nativa, e quem não tivesse teria que fazer um reflorestamento.

O local onde era o pasto do gado, foi feito o reflorestamento. “Tive que vender o gado, deixei de ter esterco para minha horta e pomar, e há cerca de cinco anos, o mangueiro que era muito bem feito pegou fogo, e hoje só temos cana-de-açúcar.

Theresinha ainda mantém a mesma muda de cana plantada pelo marido há mais de 30 anos no jardim

Há cerca de cinco anos Theresinha deixou de frequentar a fazenda semanalmente como sempre fez, pela dificuldade física em caminhar, mas ressalta que sempre que pode vai.

Os filhos Jhoel e Joelma

O casal tem dois filhos, Joelma de Souza e Jhoel de Souza Filho. Hoje, sua filha Joelma mesmo morando na Capital Paulista administra a fazenda que trouxe tantas alegrias para a família. “Estou praticamente aposentada, pela dificuldade de andar, mas vou à fazenda ao menos uma vez por mês, eu e minha filha administramos juntas. Acho muito bom este crescimento das mulheres no Agronegócio. Que elas continuem com coragem e disposição e principalmente não se intimidem com palpites”, finalizou a produtora.

Theresinha é uma mulher das letras, que se apaixonou pelo campo e fez de seu trabalho terra fértil. Ainda fala com saudades de seu gado que levava sua marca e mantém em seu jardim a mesma muda de cana-de-açúcar que Jhoel plantou há mais de 30 anos para comemorar os bons tempos. Mulher guerreira, mas doce como o açúcar que cresce em seus canaviais.

 

 

Por Suze Timpani – Canasol