Alice de Ponte: “Me deram seis meses no Agro, estou aqui até hoje”
Ela mostra que sua força vem da terra, mas planta até mesmo em meio às pedras
Mulheres do Agro sempre surpreendem por sua força, perspicácia e determinação. Quebram preconceitos, aprendem e se superam. E assim é Alice de Ponte de 72 anos, divorciada, mãe de dois filhos, uma já falecida, que sozinha começou a tocar sua propriedade em meio à cana-de-açúcar e sua criação de gado.
Funcionária pública aposentada tomou as rédeas da propriedade rural do pai Luiz de Ponte, devido sua idade avançada, onde já não conseguia mais trabalhar com a terra. Com 50 anos na época, teve que aprender a manejar o gado e cuidar dos 44 alqueires, que fica na região do Bocaiuva II em Araraquara.
Alice conta que quando assumiu as terras, as pessoas riam dela, não acreditavam que ela conseguisse dar conta do trabalho. “Diziam que eu não aguentaria 6 meses na lida com o campo, e eu estou aqui depois de 20 anos, ri ela.
Por Suze Timpani
Diante das adversidades que enfrentaria e da falta de recursos, teve que demitir um funcionário que trabalhava na propriedade há mais de 11 anos e fazer o serviço pesado. “A primeira vez que fiz uma venda de gado, precisei dispensar o caminhão que tinha vindo buscar, não consegui prender e separar o gado. Hoje faço isso com a maior facilidade”, se diverte ela.
Conta também, que enquanto muita gente não acreditava nela na época, Oswaldo Donângelo que foi vice-presidente da Canasol e presidente da Credicentro, se sentou com ela e teve uma longa conversa. “Ele me ensinou muita coisa, consegui até aprender a ter um descanso aos domingos. O que ele fez por mim, valeu por todas as críticas que me fizeram, agradeço por isso, até hoje digo que a Canasol faz parte da minha vida”, ressalta ela.
Sobrou para Alice também fazer as cercas da propriedade. “As pessoas riam e diziam que eu iria entortar toda a cerca. Funcionária pública, chique lá sabe fazer cerca. Se eu entortei algum mourão e devo ter entortado, mas, as minhas cercas faço até hoje”, se diverte contando suas proezas.
Ela diz que este tipo de coisa não podia abalá-la. “Sempre escutei, não desanimei e sabia que as coisas iam mudar, amanhã será melhor”, e seguiu.
Hoje depois de 20 anos de muito trabalho, Alice é muito respeitada no meio Agro e diz que na sua propriedade tem uma área de pedras, aonde a usina rejeitou para plantar cana. “Precisava de capim napier tipo elefante para alimentar o gado, fiz os riscos com implemento até ele quebrar nas pedras, depois fui fazendo covinhas com enxadão mesmo e colocando as mudinhas para não nascer mato. Nasceu tanto capim que cheguei até dar para os outros”.
Das dificuldades que Alice enfrentou depois da morte do pai, ela diz que um dos piores foi ter que dormir sozinha no sítio. “Não foi fácil, mas também tem muita alegria, ver os bezerrinhos nascendo, o gado prosperando, formando os pastos, colocando implementos melhores, compensa muito. Hoje não saio mais de lá, comecei aos 12 anos no sitio do meu avô, fui para a cidade estudar e trabalhar, me aposentei e voltei ao campo. Não sei ficar parada ou fazer crochê, a morte que corra atrás de mim, porque eu não tenho tempo para ficar esperando, se diverte Alice.
A produtora conta hoje com o apoio e ajuda do filho Antônio Fernando de Ponte de 37 anos, que tem muito orgulho da mãe. “Aprendi a ser homem com a minha mãe e entendi que as mulheres é quem são o sexo forte. Como dizia minha falecida irmã, mulher faz tudo que o homem faz, melhor, e de salto alto”, ressaltou Fernando.
Alice é uma mulher simples e inspiradora, que de tanto tirar leite de pedra, calejou as mãos. Que se apega em Deus para acalmar o coração e luta diariamente para construir um mundo melhor para se viver, que se diverte com as diversidades que enfrentou, não se vitimizou, pelejou por seus sonhos e de tanto sonhar e trabalhar conquistou. Uma referência de pioneirismo para as mulheres do Agro.