Brasil é protagonista na luta pela descarbonização

Caio Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, diz que a pauta avança no país, mas ainda precisa de mais parcerias público-privadas

Neste ano, Caio Carvalho assumiu novamente a presidência da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). Ele, que já havia comandado a associação entre 2012 e 2018, atua para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro.

Hoje, as discussões na associação, por meio de comitês, transitam por assuntos transversais ao setor, como logística, bioeconomia e conservação ambiental, que a Abag entende serem fundamentais para o futuro do agro.

O contexto internacional preocupa o agro brasileiro, disse Carvalho em entrevista à EXAME, ressaltando a importância do país em temas relacionados à insegurança alimentar e energética e descarbonização.

Quais são as principais agendas do agronegócio brasileiro hoje?

Em conjuntura complexa, pós-pandemia, em plenas guerras (fria — EUA/China; quente — Rússia/Ucrânia) e todas as suas consequências, como déficits fiscais crescentes nos países, inflação e políticas monetárias restritivas, de algum modo limitando a visão prospectiva, é preciso focar na lógica estrutural. Tem-se de viver o hoje, mas sem perder de vista o amanhã.

O Brasil é protagonista, líder, nas questões relativas a alguns aspectos fundamentais: seguranças alimentar e energética e a luta pela descarbonização, no tema mudanças climáticas. Ao mesmo tempo, sofre as pressões internacionais no campo da sustentabilidade, face o desmatamento ilegal na Amazônia e narrativas que procuram reduzir a relevância do agro brasileiro.

Como líder no mundo tropical, com elevada capacidade competitiva, o agro brasileiro dependerá, essencialmente, de contínuos investimentos em pesquisa e desenvolvimento nessa nova fase do Agro 5.0 [uma agricultura mais conectada do começo ao fim da safra] para o qual o Brasil se esforça para atingir. Do mesmo modo, ações no campo da diplomacia serão fundamentais para a presença proativa do Brasil e seu agro no mercado internacional.

Como você vê hoje o caminho percorrido pelas empresas brasileiras do agronegócio rumo a produções mais sustentáveis?

As empresas brasileiras mostram dados relevantes que indicam uma efetiva defesa de seus recursos naturais, sejam elas pequenas ou grandes propriedades produtivas.

As empresas multinacionais da área de insumos, aqui presentes, investem de forma efetiva na revolução dos produtos biológicos e na manutenção dos produtos químicos, essenciais à produtividade e à sustentabilidade.

Do ponto de vista das políticas públicas, a implantação efetiva do Código Florestal é extremamente relevante ao Brasil, agora sendo lentamente conduzido pelos Estados; ao mesmo tempo, a condução do RenovaBio, como Lei Nacional dos Biocombustíveis mostra excelentes resultados e estímulo à redução das emissões de carbono. Mesmo assim, ou até por isso, as narrativas externas não nos ajudam.

Quais são os maiores obstáculos e avanços quando se fala na pauta de descarbonização do setor?

Como dito anteriormente, a conjuntura vivida é muito negativa. Temos custos elevados e juros altos, com uma logística global que atrapalha a oferta e a volta da demanda por produtos, de uma forma geral.

As inseguranças atuais, no campo alimentar e de energia, trouxeram retrocesso principalmente nos países europeus, com a volta ao carvão mineral e tendências de vista grossa às áreas preservadas ambientalmente, para novo cultivo de agricultura face o pânico das inseguranças alimentar e energética.

A pauta da descarbonização do setor agro caminha muito bem no Brasil com a expansão da chamada ILPF — integração lavoura-pecuária-floresta e com nossa matriz energética limpa, com o etanol, a bioeletricidade, o biogás e o biometano, e com o biodiesel.

O grande avanço a realizar é a maior integração público-privada no sentido de injetar maior confiança nos investimentos nacionais e externos, de ações no sentido do desenvolvimento de um vigoroso mercado de carbono.