Fogo já atingiu mais de 150 mil hectares de cana nesta safra, diz Unica
Com orçamento de R$ 27 milhões para combate ao fogo, grupo Raízen diz que já atuou em 55 mil hectares
A pior seca dos últimos 60 anos, associada a três geadas que impactaram 10% dos canaviais, já provocou a queima de mais de 150 mil hectares de cana-de-açúcar, o equivalente a 3% da área plantada na região Centro-Sul nesta safra (2021/22). Os números foram apresentados em live nesta sexta, 14, pelo diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar, Antonio de Padua Rodrigues.
“Os incêndios causam prejuízos ambientais, humanos, financeiros e de produtividades para as usinas”, disse Pádua, em encontro promovido pelo grupo Raízen para reafirmar que as queimadas de cana prejudicam o setor e para debater medidas de prevenção e combate ao fogo.
O especialista ressaltou que as queimadas da cana para facilitar a colheita foram implantadas na década de 1970 por pressão dos trabalhadores porque o fogo eliminava ameaças de bichos como cobras e tornava mais fácil e seguro o corte. A colheita da cana crua, por máquinas, no entanto, mudou esse cenário e tornou o fogo prejudicial à atividade. Hoje, 99,8% da colheita é mecanizada.
O diretor-geral do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e um dos principais pesquisadores da cultura, Marcos Landell, afirmou que a cana queimada hoje é uma desvantagem, em todos os aspectos, para o produtor e a usina: “Com o novo pacote fitotécnico desenvolvido para o corte de cana crua por máquinas, o fogo passou a ser algo totalmente indesejado no manejo da cana”.
Segundo ele, o fogo queima o residual de palha que serve como mitigador do déficit hídrico, causa a perda de todas as operações já realizadas após a colheita, como a adubação e controle de pragas, e ainda tira o vigor dos canaviais já brotados, provocando menor produtividade e menos longevidade da plantação.
Um levantamento feito no ano passado pelo IAC apontou que o setor teve que investir R$ 69,42 por hectare para ações de combate ao fogo nas regiões do sul do estado e usou 1,55 funcionário por mil hectares. No norte, mais seco, o investimento foi ainda maior: R$ 86,42 por hectare e 1,576 funcionários. Projetando esse número para toda a área de plantio, o investimento anual necessário para combate ao fogo nos canaviais seria de R$ 690 milhões, com o trabalho de 16 mil funcionários.
No grupo Raízen, que tem 1,3 milhão de hectares de área agrícola, o investimento para o combate ao fogo neste ano-safra, que vai de 1º de abril a 31 de março de 2022, é estimado em R$ 27 milhões, sem contar equipamentos, segundo o diretor agrícola, Rodrigo Morales. Ele afirma que o grupo já atuou em incêndios em 55 mil hectares nesta safra, mas o total de cana queimada é 25% inferior ao do ano passado, graças às ações preventivas.
“Com a mecanização, não tem sentido queimar as áreas de cana, como se fazia no passado. Atualmente, as usinas se tornaram parques bioenergéticos que produzem também energia, ou seja, a palha da cana é nossa matéria-prima”, disse. O grupo tem 173 caminhões com canhões de água automatizados e mantém 1,7 mil brigadistas, além de 220 funcionários dedicados exclusivamente a ações de prevenção e combate ao fogo.
Na prevenção, diz Morales, a Raízen conta com estações meteorológicas e satélites que monitoram os canaviais e apontam as áreas de mais risco de incêndios. “Quando identificamos risco grande de incêndio em determinada área pelo cruzamento de dados, já mandamos a equipe de combate para o local”.
Na semana passada, duas usinas da região de Ribeirão Preto, a Batatais e a Cevasa, tiveram seus canaviais atingidos por um grande incêndio com labaredas de mais de 50 metros de altura que quase chegou à indústria e ao setor administrativo. As duas unidades ficaram fechadas por pelo menos dois dias e ainda contabilizam os prejuízos na cana que ia para a indústria e nas áreas de palhada.
Azael Pizolato, empresário rural que produz cana em 4 mil hectares em quatro regiões de São Paulo, também relatou extensos danos em seus canaviais nesta safra, incluindo a perda de um caminhão de R$ 600 mil que foi inteiramente queimado, e reclamou que, embora tenham grandes prejuízos com fogo, os produtores e usinas ainda são sujeitos a multas por infrações ambientais devido aos incêndios nas áreas de preservação permanente e reserva natural.
Segundo ele, 90% dos incêndios são criminosos. “Arriscamos nossa vida e nosso patrimônio em defesa do meio ambiente e ainda ficamos expostos a autuações ambientais absurdas”, afirma.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em 13 dias de setembro, já foram registrados 1,16 mil focos de incêndio em São Paulo ante os 2,25 mil dos 30 dias do ano passado. No mês passado, foram 2.277 focos, mais que o dobro de agosto de 2020.
Texto: NovaCana – Imagem: Unsplash/Jonathan Borba