Safra 2022/23 de cana no Centro-Sul pode avançar 7,3% frente à atual, projeta StoneX
Segundo a consultoria, acompanhar o regime de precipitações é fundamental para delinear as perspectivas produtivas
Ainda que de maneira preliminar, a StoneX divulgou na manhã desta quarta-feira, 19, sua visão para o ciclo 2022/23, que deve ter início em abril.
A dinâmica é mais positiva para a próxima temporada do que para a safra atual, segundo a consultoria. “Os maiores volumes de chuvas corroboram esta perspectiva, com as precipitações do último trimestre atingindo 520,7 milímetros na ponderação das áreas canavieiras do Centro-Sul – alta de pouco menos de 30% em relação à normalidade”, avaliam as analistas de inteligência de mercado da StoneX, Marina Malzoni e Rafaela Souza.
Até o final da entressafra, as previsões apontam para continuidade da umidade favorável, com destaque para o estado de São Paulo, que concentra a maior parte da produção de cana no Brasil. “O regime de precipitações se mostra fundamental para delinear as perspectivas produtivas, sobretudo quando consideramos que parcela dos estados canavieiros continuam registrando umidade dos solos abaixo da normalidade, o que pode se colocar como fator de pressão para ganhos de rendimento”, ponderam.
Segundo nova estimativa publicada, as chuvas regulares aumentaram em 2,2% a estimativa para o rendimento das lavouras na próxima temporada, estimado em 73,5 toneladas por hectare.
Por outro lado, a StoneX acredita ser provável que a área de cultivo diminua. “Apesar da remuneração atrativa apresentada pelos produtos da cana nos últimos dois anos, alguns produtores podem dar preferência à produção de grãos, dado sua maior rentabilidade em algumas localidades”, destacaram as analistas, em relatório. Em paralelo, a maior receita obtida pelas usinas sucroenergéticas tem estimulado o incremento nos investimentos em reforma dos canaviais.
Nesse sentido, a StoneX estima que a área de cana a ser colhida em 2022/23 se mantenha similar no comparativo safra-a-safra, em cerca de 7,7 milhões de hectares.
Com base nesses pontos, a consultoria projeta que a moagem de 2022/23 permaneça constante em relação à publicação de novembro do ano passado, totalizando 565,3 milhões de toneladas. Caso concretizado, tal volume representaria um avanço de 7,3% ante o esperado para 2021/22, segundo destaca o documento.
Em relação à qualidade da cana na região, a expectativa de retorno da umidade ao longo de 2022 tende a pesar sobre a concentração de açúcar total recuperável (ATR), que deve apresentar queda anual de 1,2%, para 140,7 quilogramas por tonelada. Mesmo assim, a consultoria pontua que o acompanhamento climático se mostrará fundamental para traçar perspectivas mais assertivas no decorrer da temporada.
Um dos principais pontos de atenção destacados pela StoneX é o mix produtivo. Na última sexta-feira, 14, o contrato contínuo do açúcar negociado em Nova York operava com prêmio de 1,8% sobre o preço do hidratado PVU (Posto Veículo Usina) com base em Ribeirão Preto (SP), porém apresentava cotação 5,6% inferior ao anidro.
Considerando a projeção de que o saldo global de açúcar deve ser de um déficit de 1,9 milhão de toneladas, a StoneX acredita que as usinas do Centro-Sul tendem a continuar direcionando maior volume de cana à produção do adoçante em 2022/23.
Na contramão dos fundamentos, contudo, o ambiente macroeconômico pode pressionar os futuros do açúcar em meio às perspectivas de manutenção do dólar comercial em patamares elevados. Para a StoneX, a depreciação da moeda brasileira atua como fator de suporte aos preços internacionais do açúcar, convertidos em reais por tonelada, estimulando o ritmo de fixações na bolsa americana.
A título de comparação, o relatório coloca que 71% da produção esperada para a próxima safra já se encontra fixada na ICE, contra a posição de 66,3% vista no mesmo período do ano passado.
Em relação ao etanol, a consultoria aponta que o aumento da oferta tende a aliviar os atuais patamares de negociação, que se encontram em recordes históricos. A StoneX acrescenta que não apenas a maior moagem de cana reforça essa tendência, mas também o aumento da destilação a partir do milho, setor em firme expansão no Centro-Sul do Brasil.
A consultoria ainda lembra que o petróleo pode voltar a apresentar superávit em seu balanço de oferta e demanda, sobretudo a partir de março deste ano. Isso atuaria como um fator baixista para os preços da gasolina nas refinarias – ainda que as cotações dos combustíveis no mercado interno possam encontrar suporte na trajetória de alta do dólar comercial.
“É importante considerar, também, que o consumo de combustíveis na região tem perdido força nos últimos meses, em vista dos preços elevados. Nossa expectativa é que haja aumento anual de apenas 2% na procura por carburantes do ciclo Otto em 2022/23, para 39,5 bilhões de litros”, destacam Malzoni e Souza.
Em meio a este contexto, as analistas esperam que a tancagem de etanol no cinturão canavieiro se mantenha relativamente confortável, com consequente menor estímulo à fabricação do biocombustível.
Considerando toda a análise, a consultoria aumentou em 0,5 pontos percentuais sua estimativa para o mix açucareiro, para 45,5%, levando a produção de açúcar para 34,5 milhões de toneladas (alta anual de 7,2%), enquanto a destilação de etanol de cana é projetada em 25,5 bilhões de litros (+5,4%). Deste total, 16,5 bilhões de litros representam a fabricação de hidratado e 9 bilhões de litros de anidro. A produção de etanol de milho, por sua vez, deve alcançar 4,2 bilhões de litros.
Safra 2021/22
A temporada 2021/22 (de abril a março) de cana-de-açúcar se encaminha para o encerramento no Centro-Sul do Brasil, acumulando moagem de 521,6 milhões de toneladas até o final de dezembro do ano passado. O avanço do processamento para além de 520 milhões de toneladas surpreendeu uma parcela do mercado, mas já era previsto pela StoneX, conforme divulgação da companhia.
Com praticamente todas as usinas em período de entressafra, a consultoria acredita que a moagem deve voltar a ganhar ritmo a partir de março. De todo modo, o relatório aponta que a maior parte das unidades produtoras pretende iniciar suas operações de colheita referente à safra 2022/23 entre abril e maio, resultando em menor antecipação da oferta para o final do ciclo atual.
Além desse cenário, e considerando o desempenho recente da produtividade dos canaviais, a StoneX anunciou uma redução de 0,8% em sua estimativa para o processamento de 2021/22, previsto para atingir 526,7 milhões de toneladas, queda anual de 13%. Em relação ao rendimento médio do Centro-Sul, ela espera que o indicador encerre a safra em 68,5 t/ha (-11,7%), refletindo as condições climáticas adversas ao longo do último ano.
Embora o retorno da umidade favoreça o rendimento do próximo ciclo, as chuvas regulares têm pressionado o ATR médio das lavouras em 2021/22, aponta a StoneX. Entre o início de outubro e o final de dezembro de 2021, por exemplo, a concentração de açucares no colmo dos canaviais retraiu cerca de 0,3 kg/t, alcançando nível acumulado de 142,9 kg/t.
Por isso, a consultoria projeta que o indicador alcance 142,4 kg/t no ciclo atual, contra 144,7 kg/t em 2020/21. Em meio ao mix açucareiro estimado em 45%, a produção de açúcar na região deve alcançar 32,2 milhões de toneladas, acumulando queda safra-a-safra de 16,4%.
A produção de etanol, por sua vez, foi projetada no menor patamar desde 2017/18, com 27,7 bilhões de litros – volume que também representa retração anual de 8,8%. Como consequência da relação favorável ao consumo de gasolina nos postos do Centro-Sul, a destilação total de anidro é esperada em 11,1 bilhões de litros (+14,6%), enquanto a produção de hidratado deve totalizar 16,6 bilhões de litros (-19,8%).
Estes volumes detalhados pela consultoria já consideram a oferta de 3,5 bilhões de litros do biocombustível produzido a partir do milho.
Mesmo assim, os estoques de ambas as variedades tendem a garantir o abastecimento doméstico nos próximos meses, detalha a StoneX, apesar da queda expressiva no volume de etanol importado ao longo do ciclo. No total, a consultoria espera que a tancagem no Centro-Sul atinja 2 bilhões de litros em março de 2022, aumento de 12,6% em relação à média dos últimos três anos.
Fonte: Nova Cana