Biocombustíveis surgem como chave para “descarbonizar” viagens aéreas

A Rolls-Royce, uma das maiores fabricantes de motores para aeronaves, anunciou plano para neutralizar o gás carbônico que produz até 2050; Brasil pode se beneficiar da estratégia

Um mês após a Air France organizar um voo de Paris a Montreal usando óleo de cozinha reaproveitado como combustível, a Rolls-Royce, principal fabricantes de motores para aeronaves, voltou a erguer a pauta da sustentabilidade nos ares: a companhia anunciou planos para alcançar a neutralidade de gás carbônico até 2050.

No primeiro momento, sua estratégia em aviação civil se baseia na adoção de biocombustíveis: até 2023, a empresa espera que todos os motores para aeronaves comerciais produzidos em suas fábricas sejam 100% compatíveis com esse tipo de combustível – no mesmo ano, a meta é que a maioria de suas soluções, também nos ramos de geração de energia e transportes não-civis, sigam o mesmo caminho. Ao fim de 2030, a Rolls-Royce planeja substituir 10% dos combustíveis fósseis por alternativas sustentáveis.

Biocombustíveis, como etanol e biodiesel, são produzidos através do processamento de biomassa, que pode incluir bagaço e palha da cana-de-açucar, resíduos de madeira, o já citado óleo de cozinha reciclado ou sebo de origem bovina. A sua queima também libera dióxido de carbono, um dos gases responsáveis pelo aquecimento global, mas esse volume é neutralizado pelo que é sequestrado no processo de obtenção dessas matérias-primas. Ao menos na teoria, fica ´elas por elas´.

O Brasil, já tradicional produtor de cana e etanol, tem a ganhar com estratégias como essa. O país pode chegar a uma produção anual de 9 bilhões de litros de biocombustível para aviação, uma quantidade capaz de sanar a demanda nacional e ser exportada mundo afora. O dado vem de uma pesquisa apresentada este mês pela Roundtable on Sustainable Biomaterials (RSB), em parceria com a consultoria Agroicone e professores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal de Itajubá (Unifei). Baseado nessa estimativa, a produção brasileira poderia, sozinha, diminuir em 60 ou 85% as emissões de CO2 da aviação em comparação com o emprego de combustíveis fósseis.

Os especialistas responsáveis pela projeção dizem que esse potencial poderia ser alcançado com o uso estratégico de resíduos vindos de cultivos já existentes, sem envolver o aumento de áreas de plantio. De acordo com a Agroicone, por exemplo, um volume extra de 31,4 milhões de toneladas de bagaço de cana e 29,9 milhões de toneladas de sua palha poderiam ser revertidos para a produção de combustíveis sem agredir o solo ou a produção de alimentos.

A Rolls-Royce, no entanto, lida com outras questões. O custo do biocombustível pode ser cinco vezes maior que o de soluções tradicionais. Além disso, legislações locais tendem a impor um limite sobre a razão entre biodiesel e querosene usado para mover aeronaves – um máximo de 50/50, segundo lei brasileira de 2019. A empresa espera, no entanto, mudar esse cenário: “Estamos fazendo um papel ativo em fazer com que esse número suba para 100%”, diz a empresa em comunicado. A estratégia também inclui um investimento de 75% de seu orçamento para pesquisa e desenvolvimento – este ano, na casa dos 1.25 bilhão de libras (R$ 8,7 bi) – voltado a tecnologias sustentáveis.

Se a indústria da aviação fosse um país, ela seria a sexta maior fonte de CO2 no planeta – atualmente ela responde por 2 a 3% das emissões. Mais recentemente, players do setor tem anunciado projetos de ´descarbonização´: é o caso da United Airlines, que como a Rolls-Royce, quer alcançar neutralidade de carbono em 2050, e a Lufthansa, que ano passado lançou um programa que ajuda passageiros a eliminarem a pegada ambiental de sua viagem. Em ambos os casos, o uso de biocombustíveis é peça fundamental.

Fonte: Udop – Imagem: EuroDicas