Compradores de açúcar correm para garantir embarques do Brasil

Navios esperam para carregar mais de 2,9 milhões de toneladas de açúcar nos portos brasileiros

Os compradores internacionais de açúcar correm para garantir suprimentos cada vez mais escassos do Brasil, o principal exportador da commodity, depois que o clima atípico prejudicou a safra de cana pelo segundo ano consecutivo e deixou o mercado mundial em déficit.

Navios esperam para carregar mais de 2,9 milhões de toneladas de açúcar nos portos brasileiros, segundo dados da Williams Brazil compilados em 24 de agosto. Isso é quase o dobro do voluma visto há um ano. A China é o maior comprador, segundo estimativas da trading Czarnikow.

Os compradores precisam de açúcar bruto imediatamente e há poucos vendedores, o que eleva os preços no mercado à vista, de acordo com o sócio da Archer Consulting, Arnaldo Correa, em São Paulo.

O açúcar mais caro deve pressionar os preços dos alimentos, que este ano atingiram recordes. O Goldman Sachs recomendou nesta semana o investimento em commodities, já que a maioria dos riscos de recessão que preocupam os mercados globais são exagerados no curto prazo. As matérias-primas devem se recuperar em meio a uma profunda crise energética e fundamentos de mercado apertados, disse o banco.

Na China, a demanda está particularmente forte. Os embarques para o gigante asiático totalizarão cerca de 1,6 milhão de toneladas em julho e agosto, segundo a Czarnikow. A produção no país ficou aquém do consumo em mais de 5 milhões de toneladas.

A onda de compras também se reflete no prêmio do contrato de outubro sobre o de março na bolsa ICE Futures US, que quase triplicou este mês. Os futuros subiram quase 3% no período, o melhor ganho desde março.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduziu suas estimativas de safra porque o clima seco prejudicou as lavouras de cana na região Centro-Sul.

Outros países também estão com dificuldades. Na Tailândia, suprimentos abaixo do esperado, obstáculos logísticos e atrasos nas entregas devem pressionar os preços pelo menos até o quarto trimestre, disse Correa. A seca e o calor podem reduzir a oferta de açúcar refinado em toda a União Europea. E a Índia, um fornecedor importante de açúcar, disse que limitará as exportações para proteger o abastecimento doméstico.

Com prêmio alto para o açúcar branco, refinarias de países como Arábia Saudita, que compram açúcar bruto e exportam refinado, também participam da onda de compras, segundo a Czarnikow.

Por enquanto, mesmo com risco de recessão, o cenário atual é de estoques apertados, disse em relatório o consultor de gestão de risco da StoneX Financial, Murilo Aguiar.

Por sua vez, a trading de commodities Louis Dreyfus estima um déficit mundial de até 3,4 milhões de toneladas na atual safra.

Fonte: Bloomberg