Geadas atingem canaviais de São Paulo; frio também afeta lavouras de milho

Na região de Jaboticabal teve temperaturas abaixo de zero

O Brasil registrou nesta quarta-feira, 30, formações de geadas do Rio Grande do Sul ao norte de São Paulo, estado onde o fenômeno climático atingiu importantes áreas produtoras de cana-de-açúcar, de acordo com avaliações de meteorologistas. São Paulo é o principal produtor de cana do Brasil, respondendo por mais de 60% da produção de açúcar do país que é maior exportador global da commodity.

O Estado paulista também é o segundo produtor brasileiro de café arábica, atrás de Minas Gerais, mas as regiões cafeeiras não foram tão atingidas pelas geadas, embora não tenham passado ilesas ao frio. “Para a cana, o efeito é mais severo (do que no café); a geada pegou áreas majoritárias. No café, foram afetadas as periferias”, comparou o meteorologista Celso Oliveira, da Somar, citando a região de Ribeirão Preto, importante região canavieira.

As geadas da véspera, que haviam feito estrados em áreas de milho do Paraná e Mato Grosso do Sul – já atingidas pela seca – foram mais amplas nesta quarta-feira, e o frio intenso deve continuar hoje. “Na cana, a geada pegou o Paraná, Mato Grosso do Sul e algumas áreas do Estado de São Paulo. Isso que surpreendeu, teve geadas inclusive no norte paulista”, disse Oliveira. Ele citou geadas em Pradópolis, na região de Ribeirão Preto, onde a São Martinho tem operações de grande porte. Não foi possível obter comentário imediato da empresa.

“Na região de Jaboticabal teve temperaturas abaixo de zero. Teve geadas também em outras áreas: Rancharia, no oeste do estado, teve 2 graus abaixo do zero; Ituverava, 1,4 graus; Bauru, 2 graus, também teve geada; Votuporanga, 1,7 graus, também geada”, enumerou.

Ainda assim, ele disse que o estado de São Paulo observou “geadas pulverizadas”. “O Paraná teve geada generalizada, praticamente em todas as usinas de cana. Já em São Paulo temos relatos de bolsões, mas não obrigatoriamente em todo o estado”, afirmou, explicando que o fenômeno também depende do relevo.

Efeitos
Os danos causados pelas geadas ao milho deverão ficar mais claros nos próximos dias, até porque há previsão de o fenômeno climático voltar a ocorrer na quinta-feira no Paraná, o segundo produtor brasileiro do cereal. “As condições atmosféricas seguem favoráveis para ocorrência de geadas em quase todas as regiões paranaenses”, disse o órgão estadual Simepar.

“O milho já tinha tido muito estrago ontem, hoje o frio expandiu para todo o norte do Paraná e para o centro-sul de Mato Grosso do Sul. Talvez o impacto seja semelhante ao da cana, que já vinha observando diminuição na produtividade (pela seca) e, agora, apareceu geada para diminuir ainda mais a produção”, comentou Celso Oliveira, da Somar.

O mercado de milho está paralisado, com vendedores aguardando mais clareza sobre o impacto do frio para uma safra já fortemente afetada pela seca. No caso da cana, Oliveira afirma que, entre os possíveis efeitos, está a antecipação da colheita, com usinas tentando minimizar as perdas. “A cana (atingida pela geada) para de crescer e, depois de alguns dias, diminui a quantidade de açúcar na cana. As usinas são obrigadas a colher esta cana antes do momento ideal”, afirmou, lembrando que isso muda o planejamento e a logística da safra.

Além disso, as áreas de cana recém-plantadas que forem atingidas pelas baixas temperaturas podem sofrer perdas totais, com necessidade de replantio. “Como o setor vai ter que esperar a volta na chuva para plantar, isso vai fazer com que a cana que deveria estar pronta no início do ano que vem só seja colhida no final do ano ou em 2023”, completa.

Roberto Samora/Nova Cana – Imagem: Amazon AgroScienses