Julia Estevo “sou feliz na roça”

“Toda mulher tem a obrigação de conquistar o seu espaço, porque do céu só cai chuva”, diz a mãe da produtora

Já se tornou natural encontrar mulheres no comando de propriedades rurais. Arrojada e bem preparada Julia Maria Estevo, de 38 anos, está à frente da Fazenda São Pedro, que fica localizada próximo à cidade de Gavião Peixoto.

Produtora de cana-de-açúcar, assumiu todas as responsabilidades da fazenda há 4 anos, após o falecimento do pai José Estevo Neto. Anteriormente era ela quem cuidava de toda parte administrativa para o pai. “Há cerca de 15 anos eu cuido de toda documentação e dos assuntos da porteira para fora, pois meu pai dizia, eu não quero mais mexer com papelada. Então imposto, pagamentos, bancos, Canasol, tudo eu quem fazia”, conta Julia.

A fazenda conta também com uma plantação de mogno

Ela ressalta que sempre soube que o seu lugar era na fazenda, mas os pais sempre a incentivaram para que fosse viver outras coisas, em outros lugares, antes de chegar o momento. “Acho que isso foi muito importante, ao menos hoje eu me dedico ao meu trabalho de corpo e alma, não me imagino em outro lugar, já vi como é fora da porteira”, diz ela.

Julia é formada em Administração de Empresa, pós graduada em Agronegócio, morou fora do país, trabalhou na Embraer, também em uma multinacional em Campinas, até que chegou o momento onde ela diz que pensou “agora deu, vou embora para a roça”.

Julia normalmente passa o dia na fazenda cuidando de sua produção de cana

A produtora tem hoje 230 hectares de cana plantada em sua propriedade e é muito criteriosa no plantio. “Fazemos todo o processo, do plantio à colheita, só não faço o transporte da cana, tenho um parceiro que leva para a usina, mas tenho toda a estrutura para colheita”. Julia também faz a colheita de algumas propriedades vizinhas e também na região.

Ela conta ainda que demorou um pouco para ingressar na vida da roça, casada e com dois filhos, não conseguiu acompanhar o pai e aprender o dia a dia das plantações e como tudo funcionava com ele.

Companheira e grande incentivadora da filha, Terezinha Salmeron Estevo acompanha Julia na fazenda semanalmente. Com experiência, devido ao convívio de muitos anos com o marido, ela sabe de tudo que se passa e ajuda a filha nas tomadas de decisões. Sábia, Terezinha diz que “toda mulher tem obrigação de conquistar o seu espaço”.

Julia e sua mãe Terezinha Salmeron Estevo

Julia diz também que se considera uma pessoa de sorte, pois seu ingresso no Agro aconteceu de uma maneira muito harmoniosa e natural. “Nunca sofri preconceito neste meio, mas algo que é camuflado é o fato de pessoas ainda pensarem que “ah é mulher”, não sabe de nada. Percebo isso nas pequenas coisas, se vou comprar algumas peças e meu tio está ao meu lado é uma conversa, se estou sozinha é outra, já querem empurrar algo a mais. Mas em questão de respeito ou sobre capacidade, sempre foi muito tranquilo”, disse.

Sebastião Salmeron, que trabalha na fazenda há cerca de 35 anos é o braço direito da produtora

O tio de Julia, Sebastião Salmeron, que trabalha na fazenda há mais de 35 anos, é o braço direto da produtora, embora ela diga que ele seja seus dois braços. “Eu tenho uma base muito grande, na minha mãe e meu tio, não consegui aprender com meu pai, mas estou aprendendo muito com meu tio. “Dentro da porteira eu ajudo ele”, brinca ela, devido à grande experiência dele com a fazenda. “Posso considerar que ele é o GPS da propriedade, ele sabe onde fica cada buraco”, ri ela.

Julia relata que não se importa em trabalhar aos sábados, domingos ou feriados, o que não consegue mais, é ficar fechada em uma empresa o dia todo. “Preciso estar ao ar livre, é o que eu gosto de fazer, sou feliz na roça”, finaliza a produtora de cana.

Tranquila e segura de si transborda amor pelo que faz, Julia é uma mulher que inspira. Entende que a experiência no Agro se adquire na roça, nos eitos de cana, no roncar dos tratores e na eterna sorte, de contar com boas chuvas.