Cana: pesquisa aponta que áreas de cultivo poderão crescer 45% até 2030

No estudo, os pesquisadores ressaltam que o setor canavieiro brasileiro pode ampliar a produção para atender as demandas interna e externa sem desmatar

O cultivo de cana-de-açúcar poderá sofrer uma expansão de até 45% no Brasil para atender à demanda da União Europeia (UE) por etanol até 2030. Esse dado está em um estudo publicado por pesquisadores europeus e brasileiros na última edição da revista Nature. 

De acordo com um estudo, o crescimento das áreas de cana, no entanto, precisa ser levado com cuidado para que a pecuária e a produção de soja não avance sobre áreas de florestas causando aumento das emissões de efeito estufa, situação que pode ocorrer caso a governança ambiental do Brasil se deteriore.

O estudo, chamado “Cana-de-açúcar brasileira amarga negociações entre União Europeia e Mercosul”, também divulgado pelo jornal Valor Econômico, foi conduzido por pesquisadores da Comissão Europeia, do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG e do centro espanhol de pesquisa agroalimentar Aragón, que consideraram que as emissões adicionais resultariam não de uma possível substituição direta de florestas pela cultura da cana, mas por meio do aumento da competição de commodities por terra.

No estudo, os pesquisadores ressaltam que o setor canavieiro brasileiro pode ampliar a produção para atender as demandas interna e externa sem desmatar, mas que isso está condicionado às políticas ambientais do país.

Veja os três cenários imaginados pelos pesquisadores:

  1. Deterioração da governança ambiental:  Neste cenário, os cientistas calculam que a pressão por terras poderia gerar emissões adicionais de gases de efeito estufa na ordem de 300 milhões de t a 1 bilhão de toneladas equivalentes a carbono acima da primeira meta brasileira dentro do Acordo de Paris.
  2. Cenário intermediário de governança ambiental: aqui, o governo daria apoio a “práticas agrícolas predatórias” e à grilagem de terras, com um “desmantelamento progressivo das leis ambientais”, que levem à continuidade das taxas crescentes de desmatamento observadas desde 2012.
  3. Cenário de maior deterioração maior da governança ambiental: as emissões de carbono adicionais estimadas no estudo poderiam ser de 400 milhões de toneladas a 1,7 bilhão de toneladas.

Demanda europeia poderia expandir áreas de cana no Brasil

A expansão do cultivo de cana em 45% até 2030, corresponderiam a um total de 14,8 milhões de ha, o que atenderia as demandas por etanol interna e externa, incluindo a demanda crescente da Europa.

Neste estudo, os pesquisadores consideram que a UE passaria a importar do Brasil a partir de 2027 mais etanol do que as cotas comprometidas no acordo com o Mercosul. Assim, o Brasil teria que produzir 52,2 bilhões de litros de etanol em 2030, número hoje acima das projeções oficiais.

A expansão de áreas com cana deverá ocorrer nas regiões Sudeste e no Centro-Oeste, sendo 30% sobre áreas de pastagens antigas, representando um terço da área a ser ocupada por canaviais em 2030.

Os pesquisadores alertam que, para que os pastos não avencem sobre vegetações nativas, provocando desmatamento, é preciso que práticas agrícolas apropriadas em conjunto com uma intensificação sustentável da pecuária.

Etanol evita emissões de carbono

Mesmo com as diversas ressalvas, o estudo assume que o etanol produzido no Brasil, consumido no lugar da gasolina, evita entre 69% e 89% de emissões de carbono equivalente, e que portanto o efeito em emissões depende das políticas ambientais.

Para os pesquisadores, a política europeia do Green Deal precisa considerar todas as implicações das importações e estabelecer regulações que mitiguem os riscos relacionados à importação de biocombustíveis.