Interrupção do fluxo de exportação da Rússia ao Brasil é questão de tempo

O país é o segundo maior exportador mundial de nitrogenados e terceiro maior exportador global de fosfatados e potássicos

A interrupção do fluxo de exportação de fertilizantes russos ao Brasil, assim como para a grande maioria de outros países do mundo, é uma “questão de tempo”, avalia a StoneX. A consultoria aponta que mesmo que o país não suspenda as vendas externas, as sanções econômicas impostas à Rússia e os gargalos logísticos tendem a interromper o fluxo exportador do país.

 “A situação está se deteriorando rapidamente e a guerra iniciada na semana passada pode ser mais longa e mais difícil para a Rússia do que se esperava”, diz a Mesa de Fertilizantes da StoneX, em relatório enviado a clientes nesta quarta-feira. No momento, as cargas que chegam ao Brasil tratam-se de contratos fechados anteriormente e que estavam a caminho.

Ao longo de ontem e desta quarta-feira, cresceram os rumores de que a Rússia teria suspendido as vendas de adubos ao País. Até o momento, não há confirmação pelo governo russo, nem pelo governo brasileiro do fato e nem pela imprensa internacional. A Rússia é o principal fornecedor de adubos ao Brasil, com cerca de 20% do volume internalizado anualmente.

 O país é o segundo maior exportador mundial de nitrogenados e terceiro maior exportador global de fosfatados e potássicos, contribuindo com 16% dos adubos exportados no mundo.

Entre os motivos apontados pela StoneX para a interrupção do fluxo exportador de adubos da Rússia ser apenas questão de tempo, a consultoria cita que as sanções econômicas já impostas são duras e colocam a Rússia em situação semelhante àquela em que Belarus se encontra desde o início de dezembro do ano passado, em dificuldade de negociar e realizar pagamentos com player externos.

 “A exclusão da Rússia da Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (Swift, na sigla em inglês) pode dificultar ainda mais suas exportações”, avalia a StoneX. Outro fato relacionado às questões financeiras é o congelamento de parte das reservas do Banco Central da Rússia, que poderia auxiliar as empresas no fluxo comercial.

Outro ponto preocupante citado pela consultoria são os gargalos logísticos, decorrentes do conflito bélico. “Os problemas de logística já estão afetando em cheio os embarques de fertilizantes de origem russa pois o Mar Negro, perto da região do conflito, já é considerado zona de guerra. Uma parte expressiva da exportação russa é escoada pelo Mar Negro”, comenta a StoneX.

 Grande parte das seguradoras internacionais não está mais assegurando as cargas de navios que circulam pela região por ser considerada zona de guerra em virtude do risco de as embarcações serem atingidas por mísseis ou até mesmo sequestradas, além disso, as próprias transportadoras marítimas não querem frequentar a região por risco de segurança.

A StoneX avalia também que o aumento dos preços em todo o complexo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) será inevitável, caso as sanções internacionais bloqueiem parte significativa das exportações russas de adubos. “Nesse cenário, se focarmos a questão de disponibilidade global dos principais macronutrientes, vemos como certa uma crise de escassez de cloreto de potássio (Kcl).

 Vemos a possibilidade concreta de uma crise de escassez de fosfatados, se bem que ainda não é possível afirmar que isso ocorrerá”, projeta a StoneX. Em contrapartida, no mercado de nitrogenados, a consultoria não projeta crise de escassez desde que a China retorne ao mercado de exportação a partir de meados de abril e maio deste ano conforme esperado. “É um cenário bastante provável”, diz a StoneX.

Fonte: Broadcast